Somaiê
pedagogia do observar
A Somaiê nasceu
como vertente da SOMA, uma terapia anarquista, criada por Roberto Freire. Ao
longo de 12 anos a Somaiê passou por mudanças variadas, dentre elas a
incorporação da obra do neurocientista chileno Humberto Maturana, a Biologia do
Conhecer. Essa junção de teorias tem sido nosso paradigma na proposta de uma pedagogia
e dinâmica de grupo com características únicas.
Entre os dias 11
e 15 de maio realizamos no Vale do Pavão, na região turística de Visconde de Mauá
– RJ um seminário de Somaiê e Te&So
convocado por mim e com a participação do núcleo de Somaiê de Belo Horizonte
(Camilo, Lucas e Bruno – que se afastou logo em seguida da formação). Nesse
seminário definimos novas diretrizes na forma da Somaiê. Esse encontro também
marca o inicío de uma nova evolução da Somaiê, de uma coisa vagabunda
nasce a pedagogia do observar.
Pelas
experiências que tivemos com os últimos grupos de Somaiê: em Belo Horizonte e em
São Paulo, e por outras condições que remontam um contexto mais amplo, mudanças
estruturais estão sendo construídas para 2013.
O processo pedagógico e terapêutico que propomos com a Somaiê dura em torno
de 18 a 24 meses, e se caracteriza por uma organização
e estrutura.
Organização:
São 4
fases diferentes: Aproximação,
Aprendizado, Aprofundamento e Pedagogia para a vida (Cadeiras quentes).
Em cada fase acontecem as atividades mensais que compõem a
estrutura abaixo descrita, porém em dois meses de cada fase trocamos a
estrutura por duas atividades marcadas antecipadamente com os grupos: VIVÊNCIAS EM VISCONDE DE MAUÁ e
ENCONTROS DE TE&SO.
Estrutura:
- atividades com o somaterapeuta e equipe
técnica: São 20 horas de
atividades mensais, sendo que 12 horas são concentradas em UM FINAL DE
SEMANA POR MÊS e 8 horas distribuídas semanalmente. Quando o somaterapeuta mora
na mesma cidade do grupo, elas podem ser mais diluídas, conforme
disponibilidade do terapeuta e consensos do grupo.
No decorrer dos 20 meses do grupo
que 9h
são de VIVÊNCIAS conduzidas pelo somaterapeuta ou co-terapeuta, 2h são de dinâmica de organização em
que o grupo faz uma leitura sobre suas produções autogestivas e 1h de leitura sobre a prática da
capoeira mensal. As 8h restantes são
de TREINOS DE CAPOEIRA ANGOLA conduzidos pela equipe técnica, tendo cada treino
semanal a duração de 2 horas. Em Belo Horizonte essas 8h serão conduzidas pela
equipe de formação. Em São Paulo, veremos como adequar a proposta com
capoeiristas, devido a ausência de formandos da Somaiê atualmente na cidade.
- atividades entre o grupo: Nessas
atividades não há a presença do somaterapeuta e co-terapeuta. São duas
atividades, GRUPÃO e CAPOEIRÃO, sendo que os grupões começam a partir da 2ª
fase e os capoeirões na 3ª fase. Os GRUPÕES são reuniões mensais (dependendo do
momento do grupo podem ocorrer com maior periodicidade) para os membros vivenciarem
suas relações sem a liderança dos terapeutas e com organização a ser criada
autogestionariamente. O CAPOEIRÃO é uma atividade voltada para treinos de
capoeira angola.
AS QUATRO FASES DA SOMAIÊ
- Aproximação: é a
fase INDIVIDUAL da Somaiê, ou seja, começa a acontecer a medida que interessados
na técnica começam a vivenciar as propostas da terapia, porém as atividades
estruturais ainda não tem uma forma definida. Tanto a quantidade de Vivências,
como o pagamento seguem definições do terapeuta adequando as potencialidades da
técnica conforme a quantidade de participantes. Esta fase tem uma duração
variada, depende dos participantes desejarem assumir as atividades
coletivamente, isso é verificado pelo terapeuta – sempre buscando o consenso
com os participantes. Ao final dessa FASE acontece a primeira VIVÊNCIA EM
VISCONDE DE MAUÁ, e antes disso um Encontro de Te&So.
- Aprendizado, nesta fase o grupo começa a experimentar a
autogestão na estrutura, porém continua aberto a entrada de novos membros.
Começam as atividades do GRUPÃO. Esta fase pode durar entre 2 e 4 meses. A
passagem desta fase para a próxima dependerá totalmente do amadurecimento da
dinâmica, ou seja, do aprendizado básico da autogestão, que pode ser
exemplificado no pagamento coletivo e no cumprimento de horários. Quando o
grupo se fecha a pessoas novas, acontece a 2ª Vivência de Visconde de Mauá.
- Aprofundamento: Nessa fase só participam pessoas
que participaram ao menos 2 meses da fase anterior (ou seja, a 2ª Vivência em
Visconde de Mauá e mais um mês). Começam as atividades de CAPOEIRÃO. Esta fase
é a mais longa do processo da pedagogia do observar, variando a duração entre 8
e 12 meses. As vivências aprofundam o processo de diagnóstico de problemas e
servem de um laboratório para os participantes vivenciarem outras formas de
perceber a realidade. É muito comum acontecerem crises individuais e da
autogestão coletiva e somente com esse amadurecimento se pode alcançar a
próxima etapa. Nessa fase a viagem a Visconde de Mauá pode acontecer em
qualquer momento a ser definido pelo grupo junto ao terapeuta.
- Pedagogia para a vida (Cadeiras quentes): Depois
de mais ou menos 15 meses de convívio, envolvimento, trocas e percepções
diversas com sinceridade vivencial, potencializado com três Vivências de Campo
e atividades variadas acontecidas nos Encontros de Te&So, é momento do
grupo voltar-se para cada membro individualmente. A Cadeira quente é um
processo inspirado nas hot seats da Gestalterapia e na própria cadeira
quente da Soma, em que todo o grupo fica em foco a cada vivência, ou seja, cada
membro do grupo terá seu momento de cadeirado, inclusive o somaterapeuta,
co-terapeuta e assistentes. Esse é o momento de radicalizar na percepção do
multiverso criado pela soma dos universos de cada participante. Enquanto nas
fases anteriores o conteúdo político era vivenciado no cotidiano da Somaiê, na Cadeira
quente o caminho da objetividade-entre-parênteses é levado a prática final.
Após todos os membros do grupo passarem pela cadeira, somaterapeuta e equipe
técnica, é momento de finalizar o processo terapêutico com a quarta e última
Vivência de Campo e depois, o último Encontro de Te&So.
SOBRE OS
ENCONTROS DE TE&SO
Esses
encontros nasceram em 2005 como a
primeira das modificações estruturais da técnica. Foram uma evolução do Curso
de Pedagogia Libertária criado nas Casas da Soma de SP e RJ, da década de 1990
a 2000. Servem de uma ponte entre a dinâmica dos grupos com a sociedade em
geral. Servem de um aprofundar no aprendizado libertário com profissionais de
áreas diversas. E voltam nessa nova fase da Somaiê, pedagogia do observar com
uma função de melhor aproveitar a Biologia do Conhecer e suas nuances Entre 2010 e 2012 ficaram em segundo plano
e fizeram falta nos últimos grupos. Principalmente a relação com o Jornal
Tesão mostrou as fraquezas do viver autogestivo dos grupos, pois faz
parte dos Encontros do Te&So
aproveitar a voz impressa desse jornal (criado em 1994 e renumerado em 2002)
como uma explicitação política e um brincar de produção editorial.
Rui Takeguma, setembro de 2013, modificando texto de maio/2013 de Lucas Salazar.
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